domingo, 31 de outubro de 2021

ORGANIZAÇÕES ECLESIAIS E MOVIMENTOS POPULARES PUBLICAM MANIFESTO POR UMA ECONOMIA A SERVIÇO DA JUSTIÇA SOCIAL E EM CUIDADO DA CASA COMUM

 


A Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil) e outras organizações eclesiais, movimentos populares e grupos da sociedade civil publicaram, no último dia 25 de outubro, o manifesto ‘Frente a uma economia de morte construamos uma economia samaritana’. No texto, o grupo se une ao Papa Francisco para exortar a uma transição pós-extrativista, para que o paradigma desenvolvimentista não se baseie mais na depredação dos nossos povos, comunidades e da Casa Comum.

O manifesto destaca o chamado feito pelo Papa durante o IV Encontro Mundial de Movimentos Populares, no dia 16 de outubro, em que conclama por uma economia “a serviço dos povos para construir uma paz duradoura baseada na justiça social e no cuidado com a casa comum”.

Durante o discurso, Francisco clamou que corporações extrativistas interrompam as violações de Direitos Humanos e Ambientais que envolvem suas atividades, como a destruição do meio ambiente, a contaminação das águas, a intoxicação dos povos e alimentos.

“Em nome de Deus, quero pedir às grandes corporações extrativistas – mineradoras, petrolíferas, florestais, imobiliárias, agroindustriais – que deixem de destruir florestas, pântanos e montanhas, que deixem de poluir rios e mares, que deixem de envenenar pessoas e alimentos”. Em conformidade com este apelo, assumimos o compromisso de promover uma economia samaritana que atue como instrumento da ação missionária da Igreja e seja capaz de transformar o modelo econômico caracterizado pela voracidade cega de um tipo de exploração extrativista que não para de crescer e expandir-se; que quanto mais extrai e quanto mais deprime, mais necessita de continuar a destruir a natureza”, disse na mensagem.

Foto: Vinícius Mendonça (Ibama)

O grupo ressalta ainda que no 1000º dia do crime de Brumadinho (MG) – quando a barragem Córrego do Feijão se rompeu, soterrando tudo que encontrava pelo caminho. Foram com 13 milhões de metros cúbicos de lama tóxica que atingiram pessoas, animais, casas e florestas, denunciou “o espírito de morte deste modelo neoliberal baseado na ganância, violência e crueldade que gera dor e exclusão. Em comunhão com as comunidades e territórios afetados pela mineração na América e compadecidos com o grito da devastada e maltratada Mãe Terra que geme e sofre dores de parto (LS, 2), chamamos a nos comprometer com uma Economia Samaritana, que se distancia da lógica extrativista”, destaca o documento.

O manifesto aponta ainda que na Encíclica “Querida Amazônia”, o Papa Francisco denuncia os projetos de extração econômica e outras indústrias que destroem e poluem (cf. QA 49). O grupo ressalta ainda que no documento final do Sínodo para a Amazônia, também é levantada a questão da conversão ecológica do ponto de vista econômico.

“Por esta razão, o Desinvestimento em Mineração surge como uma ação de conversão depois de escutar a vida e as reivindicações dos povos e da natureza.  O desinvestimento na mineração é um ato de coerência ética dentro das Igreja e suas instituições. Ajuda-nos a não sermos cúmplices na destruição da Casa Comum e a estar ao lado de muitas comunidades que sofrem os impactos do extrativismo”, aponta o manifesto.

Leia a íntegra do manifesto:

MANIFESTO
Frente a uma economia de morte construamos uma economia samaritana

Desde as organizações eclesiais, movimentos sociais, grupos da sociedade civil, congregações religiosas, povos e comunidades, unimo-nos ao apelo feito pelo Papa Francisco no IV Encontro com Movimentos Populares: é tempo de parar a locomotiva que nos leva ao abismo. Juntamo-nos ao Papa Francisco para exortar a uma transição pós-extrativista, para que o paradigma desenvolvimentista não se baseie mais na depredação dos nossos povos, comunidades e da Casa Comum.

No 1000º dia do crime de Brumadinho em Minas Gerais, Brasil, denunciamos o espírito de morte deste modelo neoliberal baseado na ganância, violência e crueldade que gera dor e exclusão. Em comunhão com as comunidades e territórios afetados pela mineração na América e compadecidos com o grito da devastada e maltratada Mãe Terra que geme e sofre dores de parto (LS, 2), chamamos a nos comprometer com uma Economia Samaritana, que se distancia da lógica extrativista.

O Papa Francisco em sua mensagem aos Movimentos Sociais exclama: “Em nome de Deus, quero pedir às grandes corporações extrativistas – mineradoras, petrolíferas, florestais, imobiliárias, agroindustriais – que deixem de destruir florestas, pântanos e montanhas, que deixem de poluir rios e mares, que deixem de envenenar pessoas e alimentos”. Em conformidade com este apelo, assumimos o compromisso de promover uma economia samaritana que atue como instrumento da ação missionária da Igreja e seja capaz de transformar o modelo econômico caracterizado pela voracidade cega de um tipo de exploração extrativista que não para de crescer e expandir-se; que quanto mais extrai e quanto mais deprime, mais necessita de continuar a destruir a natureza.

A grande mineração transnacional que hoje se expande sobre a vasta geografia e sociobiodiversidade da Nossa América é uma expressão contemporânea do colonialismo inerente ao desenvolvimento do capitalismo como um projeto civilizador. É devido à centralidade da valorização financeira – financeirização da natureza – que bens vitais como fontes de água, biodiversidade e ar puro continuam a ser destruídos para extrair minerais cujo valor é fixado e medido não tanto pela utilidade dos seus usos sociais, mas pelo seu valor de mercado. Por isso, assumimos um compromisso profético para ajudar a transformar o modelo económico de desigualdade. Compreendemos que é urgente reabilitar uma política e uma ação saudável com o mercado financeiro que tem a dignidade humana no seu centro e que sobre este pilar se constroem estruturas sociais que promovam “a preocupação pela natureza, a justiça para os pobres, o compromisso com a sociedade e a paz interior” (cf. LS 10).

“Não estamos condenados a repetir ou construir um futuro baseado na exclusão e na desigualdade, descartando ou indiferenciando; onde a cultura do privilégio é um poder invisível e insuprimível e a exploração e o abuso é um método habitual de sobrevivência”. O Bispo de Roma – Papa Francisco – convida-nos a participar e a reconhecer as alternativas quotidianas de fazer economia, que favorecem “ser comunidade para viver com justiça e dignidade”.

Em “Querida Amazônia”, o Sumo Pontífice denuncia os projetos de extração econômica e outras indústrias que destroem e poluem (cf. QA 49). No documento final do Sínodo para a Amazônia, também é levantada a questão da conversão ecológica do ponto de vista econômico. Por esta razão, o Desinvestimento em Mineração surge como uma ação de conversão depois de escutar a vida e as reivindicações dos povos e da natureza.  O desinvestimento na mineração é um ato de coerência ética dentro das Igreja e suas instituições. Ajuda-nos a não sermos cúmplices na destruição da Casa Comum e a estar ao lado de muitas comunidades que sofrem os impactos do extrativismo.

Por este motivo, assumimos e aderimos à Campanha de Desinvestimento Mineiro, promovida pelas Igrejas e Rede Mineira, conscientes de que é uma resposta eficaz para enfrentar o sistema extrativista. Apelamos às organizações, instituições, movimentos sociais e pessoas de bom coração para que coordenem ações conjuntas para acelerar a conversão ecológica e a transformação social:

Procuremos caminhos para uma Economia Samaritana, propomos “pensar na participação social, política e econômica de tal forma “que ela inclua os movimentos populares e anime as estruturas de governança local, nacional e internacional com aquela torrente de energia moral que surge da incorporação dos excluídos na construção do bem comum” (cf. FT 169).

Socializamos e denunciamos a realidade da exploração e da injustiça sofrida por milhares de pessoas devido ao extrativismo e conscientizamos sobre os impactos da mineração e de outros projetos predatórios.

Reflitamos sobre decisões coerentes em nossas práticas financeiras e de consumo, políticas econômicas e de investimento dentro de nossa organização, para que promovam os direitos humanos, a justiça social, climática e ambiental, a equidade de gênero e o bem comum, de acordo com o mandato divino de proteger a criação (Gn 2.15). Continuemos a aprofundar e promover reflexões que nos conduzam a decisões proféticas sobre os nossos investimentos.

Promovamos o desinvestimento na mineração como uma atividade orientada para uma urgente mudança de paradigma que rejeita as muitas formas de injustiça “alimentada por um modelo econômico baseado no lucro, que não hesita em explorar, descartar e até matar” (cf. FT 22). Por isso nos comprometemos a gerar uma economia integrada num projeto político, social, cultural e popular que busca o bem comum (cf. FT 168 e 169).

Apoiemos as comunidades, territórios e povos que defendem o seu direito à existência, queremos acompanhar e denunciar a sua dor. Queremos construir pontes “de amor para que a voz da periferia com seus gritos, mas também com seu canto e também com sua alegria, não provoque medo, mas empatia no resto da sociedade”, como nos convida o Papa Francisco.

E, juntamente com o grito das comunidades afetadas pela mineração, levantemos a nossa voz no mundo, dando testemunho de esperança e coerência, construindo unidade e ligando possibilidades para uma conversão ecológica e economia samaritana.

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