Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador
Quando publicada, dia 04 de outubro, a nova encíclica de Papa Francisco denominada “Fratelli tutti” recebeu bastante atenção da mídia e repercutiu em redes sociais, com inúmeros comentários e resumos rapidamente divulgados. Contudo, apesar da importância deles, nada substitui a leitura do novo documento pontifício. As cartas denominadas “encíclicas” têm especial importância no Magistério da Igreja Católica. A “Fratelli tutti” é a terceira encíclica de Francisco, precedida pela “Lumen Fidei” (2013) e pela “Laudato si” (2015). Faz pensar e desafia a encontrar caminhos para a superação de graves problemas sociais no novo contexto da pandemia que a todos atinge, de algum modo, especialmente os mais pobres e fragilizados.
O título “Fratelli tutti”, do italiano, traduzido como “Todos irmãos” ou “Irmãos todos”, é como “escrevia São Francisco de Assis, dirigindo-se a seus irmãos e irmãs” segundo explica o próprio Papa, logo no início do texto. É um convite à vivência, no mundo de hoje, da “fraternidade e da amizade social”, tema da encíclica. Os títulos dos oito capítulos da carta encíclica despertam interesse e reflexão, iniciando-se com “As sombras dum mundo fechado” (capítulo I) e terminando com “As religiões ao serviço da fraternidade no mundo” (capítulo VIII). “Mundo aberto”, “coração aberto”, “diálogo”, “fraternidade”, “amizade social” e “encontro”, são termos que aparecem nos títulos dos diversos capítulos e na reflexão desenvolvida, indicando o caminho a seguir. Para bem compreender o que o Papa Francisco diz, é preciso vencer a tentação de uma leitura apressada ou parcial do texto, para uma leitura atenta e completa, pois ele pretende estabelecer “diálogo com todas as pessoas de boa vontade” (n. 6).
Sendo uma “carta encíclica”, a Fratelli Tutti já merece atenção especial. Sendo “encíclica social”, nos seus argumentos e destinatários, ultrapassa as fronteiras da Igreja Católica, interpelando a todos. Francisco analisa os problemas sociais e aponta caminhos com o olhar da fé, mas o vocabulário não é necessariamente religioso, com contribuições do pensamento filosófico e científico, como ocorrem nas demais encíclicas sociais. Os critérios e valores do Evangelho, transmitidos pela Doutrina Social da Igreja, fundamentam a reflexão desenvolvida.
No seu ensinamento social, a Igreja não tem a pretensão de oferecer soluções técnicas para os problemas sociais, mas o que ela tem de maios precioso, a luz da fé, o Evangelho de Jesus Cristo. Nesta perspectiva de fé, a encíclica termina com duas orações: “Oração ao Criador” e “Oração Cristã Ecumênica”.
A Fratelli Tutti desinstala quem está acomodado frente aos problemas sociais, principalmente neste tempo de pandemia, reacende a esperança e estimula a caminhar na “fraternidade sem fronteiras”.
0 comentários:
Postar um comentário