
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
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Como curar as feridas da violência
Não são a raiva nem a vingança, e muito menos a intolerância ou o preconceito, os caminhos a percorrer para curar as feridas causadas no Myanmar por anos de violências e de ódio. Ao frisar isto o Papa Francisco – que chegou ao terceiro dia de permanência no país asiático – sugeriu que se olhe para a experiência de Cristo na Cruz, aprendendo dele «o perdão e a compaixão» e recorrendo ao «bálsamo restaurador da misericórdia» para «ungir qualquer ferida e memória dolorosa».

A primeira missa pública de um Pontífice no território do Myanmar – celebrada na manhã de quarta-feira 29 de novembro em Yangon diante de cento e cinquenta mil fiéis provenientes de todo o país – ofereceu a Francisco a ocasião para agradecer à Igreja local o compromisso de solidariedade e de assistência em apoio de tantas pessoas «sem distinções de religião ou de proveniência étnica». Um compromisso ao qual, disse, se une o esforço de lançar «sementes de cura e reconciliação nas vossas famílias, comunidades e em toda a sociedade desta nação».
Precisamente o tema da «cura» das feridas foi retomado com vigor nos outros dois encontros que ritmaram o dia do Papa. Durante o encontro com o conselho supremo “sangha” dos monges budistas, reunido no Kaba Aye Centre, lugar símbolo do budismo de tradição “teravada”, Francisco exortou os líderes religiosos a falar «com uma só voz afirmando os valores perenes da justiça, da paz e da dignidade fundamental de cada ser humano», e oferecendo deste modo ao mundo «uma palavra de esperança». Significativamente o Pontífice pôs em paralelo algumas expressões do Buda com as palavras da “oração simples” de São Francisco para convidar a «superar todas as formas de incompreensão, intolerância, preconceito e ódio». Expressando, por fim, os votos de que budistas e católicos possam «caminhar juntos ao longo desta vereda de cura, e trabalhar lado a lado pelo bem de cada habitante desta terra».
O dia do Papa – que quinta-feira 30 deixa o Myanmar e se desloca para o Bangladesh, segunda etapa da viagem à Ásia – concluiu-se com os prelados do país, com os quais se encontrou à tarde num salão do complexo adjacente ao arcebispado. Ao discurso preparado Francisco quis acrescentar diversos excertos improvisados, para frisar alguns pontos da sua reflexão. Em particular, recordou que a Igreja é «um hospital de campo» e convidou os prelados a estarem próximos dos seus sacerdotes e catequistas, que são os “pilares” da evangelização, evidenciando que a tarefa primária do bispo é a oração. O Pontífice fez mais um apelo a trabalhar para superar as divisões e as incompreensões e para levar a todos os habitantes do Myanmar «uma mensagem de cura, reconciliação e paz».
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