quinta-feira, 26 de junho de 2025

Venerável João Luiz Pozzobon: dom de Deus, sinal de esperança e figura luminosa

 


A Igreja no Brasil tem um novo venerável: o diácono João Luiz Pozzobon, conhecido por iniciar a Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, com a oração do terço nas casas das famílias. Pozzobon teve o reconhecimento de suas virtudes heroicas pelo Papa Leão XIV, na última sexta-feira, 20 de junho.

Em artigo publicado no portal da CNBB, o arcebispo de Santa Maria (RS), dom Leomar Antônio Brustolin, destacou o exemplo de Pozzobon como sinal de esperança para a região que sofre com as consequências das chuvas e enchentes que, novamente, atingem diversas comunidades. “A venerabilidade de João Luiz Pozzobon resplandece, neste contexto, como um sinal concreto de esperança”, afirmou.

“Nas últimas semanas, muitas famílias foram afetadas pela emergência climática. Dor, perdas e incertezas ainda pairam sobre inúmeros lares. É neste cenário de sofrimento que Deus nos oferece a figura luminosa de João Luiz Pozzobon: homem simples, esposo e pai, profundamente comprometido com a missão de evangelizar com Maria Santíssima. Um peregrino incansável, que percorreu mais de 140 mil quilômetros a pé com a imagem da Mãe e Rainha, levando consolo, fé e amor às famílias”, lembrou dom Leomar.

A proclamação de suas virtudes heroicas é um apelo à confiança, continuou o arcebispo. “Em meio ao barro das ruas alagadas, ao silêncio das casas destruídas e ao esforço incansável da reconstrução, ouvimos a voz de Deus: ‘Não tenham medo! A fé é mais forte que o desastre. O amor é maior que a dor’. Como verdadeiro discípulo missionário, Pozzobon nos ensina a caminhar com perseverança, mesmo nas tempestades da vida”.

 

Rumo aos altares

O reconhecimento das virtudes heroicas se dá com a autorização do Papa para a publicação do decreto pelo Dicastério para a Causa dos Santos. Esse documento atesta que o servo de Deus viveu as virtudes da fé, da caridade, da esperança, da justiça e da prudência de forma heroica, mesmo à custa de grandes sacrifícios.

Essa é uma das etapas do processo de beatificação, que também investiga um possível milagre alcançado por intercessão de João Pozzobon. O fato, ocorrido no território da arquidiocese de Santa Maria, já passou pelo escrutínio de peritos locais, e agora é examinado por peritos e cardeais responsáveis pelas causas dos Santos em Roma.

 

Esposo, pai e missionário

João Luiz Pozzobon era neto de imigrantes italianos. Nasceu em 1904, na localidade de Ribeirão, atual município de São João do Polêsine, região central do Rio Grande do Sul. A família vivia da agricultura familiar e cultivava a piedade católica típica dos “colonos” italianos no interior do Rio Grande do Sul, com a reza do terço, assiduidade nos Sacramentos e o voluntariado nas obras da Igreja.

Aos 23 anos, Pozzobon casou-se com Theresa, com quem teve dois filhos, passando a morar em Restinga Seca, onde os dois abriram um pequeno hotel. Poucos anos após o casamento, Theresa desenvolveu tuberculose, e para facilitar o tratamento, a família mudou-se para Santa Maria, onde Pozzobon abriu um pequeno comércio em uma região próxima à linha férrea.

Em Santa Maria, Theresa não resistiu à doença, e faleceu em 1933. Tendo dois filhos pequenos, João Pozzobon casou-se com Vitória, que tornou-se uma boa mãe para as crianças e para os cinco filhos que vieram nos anos seguintes. João Pozzobon se referia aos filhos como “minhas sete graças”, e é lembrado até hoje pelos familiares como um pai bom, amoroso e justo, que nunca descuidou de sua família.

Em Santa Maria, o Sr. João vinculou-se à Paróquia Nossa Senhora das Dores, onde morava, continuando os costumes religiosos que trouxe de berço. Conheceu o Santuário de Schoenstatt e sua espiritualidade mariana, passando a participar de retiros e encontros de formação, e da missa diária às 6h30min. O vínculo criado com o Santuário foi imediato e passou a dar um sentido para a vida de João, que testemunhou:

“Eu tinha 12 anos e sentia uma espécie de saudade, que não conseguia saciar. Em nossa terra havia uma colina, uma terra um pouco elevada, e eu olhava o horizonte, ali onde o céu parece tocar a terra, e parecia-me que, desse modo, preenchia o vazio que sentia… Essa saudade durou uns 36 anos…” A sua saudade foi saciada ao conhecer o Santuário e ouvir o chamado de Deus para a campanha que iniciou.

Dia 10 de setembro de 1950, ano em que a Igreja proclama o dogma da Assunção de Maria ao céu, ele recebe da Irmã Terezinha Gobbo a Imagem da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, após acompanhar uma visita a uma família. Ela o convidou a assumir a tarefa por alguns meses.

Ele afirma: “No Santuário da Mãe e Rainha aconteceu minha grande descoberta. A bondade e a misericórdia de Deus e da Virgem Mãe e Rainha me confiaram uma grandiosa missão evangelizadora: a Campanha do Santo Terço. Entendi a missão e, por ela, fiz minha entrega total”.

A Campanha da Mãe Peregrina

A imagem que recebeu das irmãs em 1950 havia sido pensada para visitar as famílias em preparação à proclamação do Dogma da Assunção de Maria. Porém, findada a tarefa, o Sr. João pede para continuar com a imagem. Assim, deu seguimento e ampliou cada vez mais o campo de atuação.

Primeiro, levava a imagem a cada noite em uma família da vizinhança, rezava o terço, conversava sobre a vida de fé das pessoas, estimulando que fossem à Missa, contribuíssem com sua paróquia e buscassem os sacramentos. Com o tempo, suas caminhadas passaram a incluir escolas, hospitais, presídios e empresas; e também aumentaram as distâncias percorridas. João levou a Peregrina para localidades no interior, na região da Quarta Colônia, onde havia nascido, e mais além. Conforme registrou em seu diário, percorreu a pé cerca de 140 mil quilômetros ao longo dos 35 anos de caminhadas com a Mãe e Rainha sobre o ombro direito.

Seguindo a inspiração da Providência, criou o que hoje conhecemos como a Campanha da Mãe Peregrina. Encomendou a fabricação de imagens de Nossa Senhora em tamanho menor, mas com o mesmo formato daquela que ele carregava. Essas deveriam passar de casa em casa, servindo de elo de união entre as famílias de um mesmo bairro. Os anos foram passando e este apostolado cresceu cada vez mais. Está em quase 100 países, contando cerca de 200 mil imagens que circulam entre os grupos de 30 famílias.

A cada ano, o Sr. João entregava um relatório de suas atividades para o seu pároco e para o bispo, relatando o que observava, as comunidades visitadas e o trabalho desempenhado. De cada encontro, não saía sem pedir de joelhos a bênção da autoridade eclesial, e dedicava orações e sacrifícios pelos sacerdotes. Além disso, em suas viagens, sempre que chegava a uma nova comunidade, ia diretamente ao padre responsável pelo local humildemente pedir permissão para visitar as famílias e fazer seu apostolado.

Em seu trabalho de evangelização e visitas às famílias, tinha contato com a pobreza e as necessidades materiais e espirituais dos irmãos. Isso o motivou a criar a Vila Nobre da Caridade.

Com a ajuda de benfeitores, construiu 14 casas e uma capela, a capelinha azul, que servia também de escola e centro comunitário. As casas eram para moradia gratuita de pessoas pobres, que também recebiam educação para o trabalho e orientações práticas, como fazer hortas, reparos e melhorias nas casas.

Outras duas capelas – a rosa e a branca – e uma escola também foram construídas em outras vilas pobres da cidade com o apoio da comunidade. Tudo sem descuidar da formação ética e espiritual, garantindo a dignidade de cada um. Na zona rural dos municípios vizinhos, João estabeleceu mais de 40 ermidas, como locais de reunião e oração para as famílias que moravam longe das capelas, formando pequenas comunidades.

Um diácono comprovado no amor

Em 30 de dezembro de 1972, ele é ordenado Diácono Permanente da Igreja, pela imposição das mãos de Dom Érico Ferrari, na Capela Nossa Senhora das Graças em Santa Maria. Assim, poderia ampliar seu trabalho, pois muitas vezes visitava famílias que ainda não tinham acesso aos sacramentos como batismo e matrimônio. Como Diácono, passou a celebrar batismos e matrimônios e a levar a Eucaristia para os doentes, contribuindo diretamente com a missão da Igreja, em comunhão com o bispo, na diocese de Santa Maria.

 

Ele testemunha sobre este chamado: “Minha ordenação foi como uma flor que se abriu, uma grande alegria que se estendeu a todos os amigos. Senti-me penetrado, totalmente, pelo espírito da Santa Igreja. Senti a união como um só coração. Foi um verdadeiro Cenáculo, junto com a Mãe e Rainha. A hora do Espírito Santo”.

Sente-se também unido ao Fundador da Obra de Schoenstatt, Padre José Kentenich, do qual se considera um aluninho e com quem se encontrou em 1952. Após 35 anos de total dedicação à Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, falece no dia 27 de junho de 1985. A caminho do Santuário, ao atravessar uma avenida, devido a um forte nevoeiro, é atropelado por um caminhão.

Assim ele faz a sua última romaria, realizando suas palavras:

“Se um dia me encontrarem morto no caminho, saibam que eu morri de alegria!”

O Diácono João Luiz Pozzobon buscou responder o chamado a santidade em sua vida também pela dedicação à Campanha da Mãe Peregrina, um apostolado desenvolvido na arquidiocese de Santa Maria que se espalhou pelo mundo. Seu processo de beatificação foi aberto em Santa Maria, em 12 de dezembro de 1994, por dom Ivo Lorscheiter.

Testemunho do bispo e do pároco

Certa vez, seu bispo diocesano, dom Ivo Lorscheiter, escreveu ao Diácono João, após receber um relatório de suas atividades: “Vejo, não sem emoção, que seu trabalho apostólico nas vilas e bairros, está chegando às Bodas de Prata… sua oração diária é um verdadeiro louvor em nossa Igreja diocesana, e seu trabalho pastoral é digno de nossa comovida homenagem”.

Na homilia da Santa Missa de corpo presente, seu pároco testemunhou: “João cultivava uma estreita vinculação com a própria paróquia; com frequência estava na casa paroquial, trazendo seus programas para serem aprovados. Nunca deixava o escritório sem pôr-se de joelhos e suplicar a bênção, dizendo: ‘Vou com sua bênção, Padre!’”

 

 

Jubileu dos Jovens, promovido pela Comissão para a Juventude da CNBB, acontece em Aparecida de 3 a 6 de setembro



 O Maior Santuário Mariano do Brasil, em Aparecida (SP), será entre os dias 3 e 6 de setembro de 2025, o principal destino da juventude brasileira. O Jubileu dos Jovens, promovido pela Comissão Episcopal para a Juventude CNBB, integra as celebrações do Ano Santo com o tema “Peregrinos da Esperança”. A programação inclui encontros formativos, seminário de comunicação e a tradicional Romaria Nacional da Juventude, no Santuário Nacional.

A iniciativa busca reunir jovens de todas as regiões do país em um caminho de fé, comunhão e formação. As atividades ocorrerão no auditório do Santuário Nacional de Aparecida e no Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida.

Encontro nacional de lideranças

A programação começa no dia 3, com o Encontro Nacional de Responsáveis Diocesanos, Assessores e Líderes Jovens (RDJ2025), que segue até 5 de setembro. A atividade será realizada no auditório do subsolo do Santuário Nacional. O objetivo é oferecer espaço de formação, escuta e planejamento conjunto entre as lideranças que atuam na pastoral juvenil em nível diocesano.

Durante os três dias, os participantes refletirão sobre os desafios da evangelização da juventude, a sinodalidade na ação pastoral e o papel dos jovens no contexto social e eclesial. A programação incluirá momentos de espiritualidade, oficinas e partilha de experiências regionais.

Seminário de Comunicação

No dia 5 de setembro, ocorrerá o RISE UP: 3º Seminário de Jovens Comunicadores, também no auditório do subsolo. Voltado aos jovens que atuam com comunicação social (mídias sociais, jornalismo, designer, etc) e evangelização digital, o encontro pretende formar jovens comprometidos com a comunicação ética e evangelizadora, em sintonia com as diretrizes da Igreja.

As atividades do seminário abordarão temas como produção de conteúdo, redes sociais, inteligência artificial e missão digital.

Romaria Nacional da Juventude

O ponto alto do Jubileu será no sábado, 6 de setembro, com a Romaria Nacional da Juventude. A expectativa é reunir milhares de jovens de diversas dioceses para um dia de celebração e testemunho da fé, marcado por missas, momentos de oração, catequeses e atividades culturais.

A programação se concentrará no Centro de Eventos do Santuário Nacional, com procissão ao longo da esplanada. A Romaria é considerada a maior expressão da unidade da juventude católica brasileira.

Participação e inscrições

As inscrições estão abertas: app.ciaticket.com.br/evento/jubileu-das-juventudes-03-09-2025-1127. Cada diocese é incentivada a organizar caravanas. 

Caminho sinodal e compromisso com a esperança

O Jubileu dos Jovens é parte do caminho sinodal da Igreja, que convida todos os fiéis a viverem a esperança como virtude cristã e compromisso com a transformação da realidade. Para a juventude, trata-se de uma oportunidade de renovar a fé, assumir o protagonismo juvenil e aprofundar a identidade como discípulos missionários.

Em Aparecida, os jovens serão acolhidos na Casa da Mãe, confiando à intercessão de Nossa Senhora os desafios e esperanças.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

O papel do apóstolo Pedro, a catequese de Francisco em entrevista inédita




 Uma gravação de 2021, que seria incluída em um documentário, será transmitida pelo canal de televisão ESNE “El Sembrador, Nueva Evangelización”. O Pontífice, meditando sobre as passagens bíblicas dos diálogos entre Jesus e seu discípulo, expressou novamente o desejo de que a Igreja seja uma humilde servidora em meio ao mundo.

Vatican News

A total confiança em Deus, a consciência de ser frágil e pecador, um novo chamado aos sacerdotes para se colocarem a serviço de todos, sua admiração pelos mártires contemporâneos e sua preocupação com os migrantes são alguns dos temas que o Papa Francisco abordou em 2021, na conversa com Noel Díaz na Casa Santa Marta. Díaz é o fundador da associação de fiéis "El Sembrador, Nueva Evangelización", que anuncia a Palavra de Deus por meio da televisão e do rádio.

Abaixo, a transcrição completa da entrevista:

Hoje o senhor é o sucessor deste homem chamado Simão. O que esta Escritura lhe recorda Santidade?

Tantas coisas! Que Jesus chamaa Simão em meio ao povo, não o separa do povo. Há muita gente e Jesus prega, e as pessoas vão ouvir Jesus porque tem sede da Palavra de Deus. E Jesus fala como alguém que tem autoridade. Primeiro, Jesus sempre chama seus sacerdotes do povo, do meio do povo. Se Pedro tivesse esquecido de suas origens, teria traído o plano de Jesus, teria fundado uma elite. Não! O pastor deve estar com as ovelhas. É por isso que ele é pastor. Segundo, os sinais que Jesus realiza, não apenas a autoridade de sua Palavra. Para que tenham confiança n'Ele, Ele realiza aquele milagre maravilhoso, e ninguém esperava por isso. Onde está Jesus, sente-se a sua força; e Pedro, quando duvidar, quando não tiver a força, se recordará disso, do milagre, de que o Senhor é capaz de mudar as coisas. O que faz Pedro quando vê que Jesus faz isso? Ele se ajoelha diante d'Ele, se sente um nada, humilde, reconhece ser limitado, ser pecador. “Senhor, afasta-te de mim, porque sou pecador.” E é aí que Jesus chega, onde quer chegar. O caminho de Pedro é estar com o povo para ouvir o Senhor. Ir pescar segundo a ordem do Senhor e realizar este milagre. Terceiro, reconhecer a sua pequenez, o seu ser nada, e dizer ao Senhor: “Afasta-te, porque sou pecador.” “Porque és pecador, porque me seguiste, agora farei de ti pescador de homens.” Este é o quarto passo. Quando Jesus o unge, bispo, sacerdote, Ele o unge porque ele é pastor. Ele não o unge para promovê-lo, para que ele seja chefe de um escritório. Ele não o unge para que organize o país politicamente. Não. Ele o unge para ser pastor... e [Pedro] deixa tudo.

E como o senhor se sente ao assumir o lugar de Pedro?

Sinto que o Senhor acompanha, que é Ele quem escolhe, é Ele quem iniciou esta história. Comigo, a iniciou Ele, convidou-me Ele, acompanhou-me Ele. E não obstante as minhas infidelidades, porque sou um pecador como Pedro, Ele não me abandona. Então sinto que Ele cuida de mim.

Noel introduz a leitura bíblica em que Jesus pergunta aos seus apóstolos o que as pessoas dizem sobre quem Ele é. Depois, Pedro O reconhece publicamente como o Messias.

Ali, Jesus começa com uma pesquisa, quer escutar. E diz: “o que o povo diz sobre mim?” “Dizem que você é um profeta, que é João Batista que ressuscitou”. Depois de perguntar o que diz o povo, Jesus pergunta a eles: “e vocês?”, ou seja, interpela-os. Jesus se dirige a nós nos interpelando: “O que você diz de si mesmo, o que você diz de mim?” É o diálogo com Jesus. Ele nos chama pelo nome. E Pedro já tinha se destacado como o líder, porque Jesus lhe havia dito no primeiro dia, quando o conheceu e lhe mudou o nome: “você é Simão, mas será chamado Pedro”. Ele colocou-o como a pedra de sustento do grupo. E Pedro faz aquela profissão de fé, se compromete completamente. Imaginemos a cena de dizer a uma pessoa: “você não é nem Fulano nem Sicrano, você é Deus, o Filho de Deus”. Se você disser isso a alguém hoje, te internam num hospício, dizem que está fora de si. Ele se comprometeu totalmente, e Jesus explica por que teve a coragem de se comprometer: “porque o que você disse não foi revelado por nenhuma ciência, mas pelo Pai através do seu Espírito”. E então, quando vê Pedro se comprometendo assim, confirma-o em seu nome: “Você, Simão, filho de Jonas, que é pedra, sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Sobre a fragilidade de um homem que tem a solidez de uma pedra na medida em que se apoia na palavra de Jesus. Quando se afasta da palavra de Jesus, é como qualquer outro homem, não tem a solidez da pedra. Por isso Ele o escolhe, porque tem a solidez da pedra. Pedro fica maravilhado com o que Jesus lhe diz: “Foi o meu Pai quem te revelou isso”. E então Jesus diz: “pois bem, saibam que agora irei a Jerusalém e lá me esperam coisas ruins. Vão me julgar, me matar, me crucificar, mas eu ressuscitarei”. Então Pedro, que já se sente um pouco o chefe do grupo, o chama de lado. O Evangelho diz: “Senhor, por favor, isso não”. E Jesus, que havia elogiado Pedro, que lhe tinha dito: “você é o receptor da revelação do meu Pai”, o repreende. Diz: “Afasta-te de mim, Satanás!”, o pior insulto. Por quê? Porque ele quer afastá-lo do caminho da cruz. Essa é a grande correção feita ao primeiro Papa, a Pedro. Também a nós, Papas, Jesus, se às vezes nos afastamos do seu plano de salvação, diz: “Esse não é o meu caminho, é o caminho de Satanás”. Por quê? Porque somos pecadores e podemos nos desviar. A história mostra alguns Papas que preferiram um caminho diferente, ainda que nunca, nunca tenham errado na fé. É verdade, nunca, mesmo que tenham levado uma vida mundana. E quando [Pedro] erra na fé, Jesus diz: “Não, isso é de Satanás. O meu caminho é a cruz”. Ou seja, minha confiança está na palavra de Jesus que me dá firmeza quando me escolhe e me dá um tapa quando erro.

Papa Francisco com jornalista Noel Díaz na Santa Marta
Papa Francisco com jornalista Noel Díaz na Santa Marta

É muito difícil, às vezes, enfrentar os desafios e os ataques do mundo secular, mas tenho certeza de que é mais doloroso enfrentar os ataques internos. É disso que se trata quando Ele diz: “Tu és Pedro”. Você agora é o sucessor de Pedro e, mesmo que venham todos esses ataques, as forças não prevalecerão, diz a Palavra de Deus.

Que forças Ele diz que não prevalecerão? O que Jesus diz?

As forças do mal.

Do mal, do inferno! Ou seja, quando se deposita a esperança não na revelação do Pai nem na escolha de Jesus, mas em outros meios, no dinheiro, por exemplo. “Estamos bem porque temos dinheiro”. Imaginemos um padre, um bispo que diz: “Nossa igreja vai bem, temos leigos que nos dão dinheiro e tudo segue adiante”. Não deposite sua esperança aí, porque senão desabará. São forças do inferno, não são as forças da revelação do Pai. A Jesus o insultaram, o crucificaram e se fizeram isso com Ele, quem sou eu para que não façam comigo? Se trataram assim o Mestre, qualquer discípulo, qualquer um de vocês, nem precisa ser Papa, não pode esperar outro tratamento. Tantos mártires na Igreja nos ensinam isso.

Noel Díaz o deixa reagir diante do texto de João 21, no qual Jesus pede a Pedro se o ama, para depois confirmá-lo na sua missão, mas também para lhe dizer que o caminho não será fácil.

Uma confirmação e uma promessa. Quando Pedro o havia professado, Jesus lhe havia prometido que as portas do inferno não prevaleceriam, que permaneceria firme até que estivesse sobre a pedra. Aqui confirma isso três vezes. Pedro se entristece porque se recorda das três vezes em que o negou, e então se entristece, e finalmente o Senhor o confirma pela terceira vez. Ele lhe diz talvez “de agora em diante nada de ruim irá lhe acontecer, agora terá todo o poder, agora terá todo o dinheiro, agora as pessoas o seguirão”? Diz isso talvez a ele? Não! Ele lhe diz: “vá em frente, porque quando for velho irá para onde não quiser, o levarão para onde não quiser, o despojarão e acabará como eu, crucificado”. O Senhor promete a Pedro o seu caminho, o caminho da cruz, o caminho da entrega total, o caminho de colocar a confiança somente Nele. É interessante que, quando Pedro professa que Jesus é o Filho de Deus – a força do Espírito Santo o faz professar isso -, depois ele perde o rumo. E quando Jesus fala sobre a cruz, tenta convencê-lo do contrário. Pedro cai em um pensamento mundano e a mesma coisa acontece aqui. Jesus lhe diz isso, ele aceita, [Pedro] então se volta para João e pergunta: “Senhor, já que está aqui, o que será dele?” É o Pedro fofoqueiro, o Pedro que se esquece naquele momento do que o Senhor lhe disse para fazer fofoca sobre outra pessoa. Somos assim, mas o Senhor cuida de nós com o seu poder, mesmo quando é preciso enfrentar o martírio, nos acompanha com a sua mão. E por falar em martírio, gostaria de concluir falando sobre os mártires de hoje.  Há mais mártires hoje do que no início da Igreja. Mártires cristãos, mártires que, pelo simples fato de serem cristãos, são decapitados e professam Jesus. Mártires que estão na prisão por ter professato Jesus. São nossos irmãos! É a Igreja dos mártires. É esta a Igreja que triunfa, não a Igreja com dinheiro nos bancos. É esta que triunfa, a Igreja dos mártires, do testemunho. Porque martírio significa testemunho. Mencionei aqueles que dão suas vidas, mas até mesmo aquele homem, aquela mulher que trabalha todos os dias para educar os próprios filhos na vida cristã e para dar-lhes testemunho, é um mártir. “Não, padre, como pode ser um mártir se não o mataram?” Não, mártir significa testemunha. Martírio é testemunho, é a tradução do termo grego. Qualquer testemunha de Jesus é mártir, ou seja, dá testemunho.  E também ele dá testemunho da Igreja. Que Deus abençoe todos vocês e rezem por mim, por favor.

Noel Díaz pede a bênção para todos.

E a todos vocês, que estão assistindo e ouvindo esta conversa, desejo que o Senhor abra o coração de vocês e permita que a sua Palavra entre ali. Portanto, os abençoo de todo coração. Eu os abençoo. Dou-lhes minha bênção como pai, como irmão mais velho, como servo de todos vocês. Que os abençoe Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo. E, por favor, rezem por mim. Obrigado.

(Noel Díaz pede uma segunda bênção para os migrantes). Tudo isso representa os migrantes, eu disse a eles que pediria a sua bênção.

Pensando nos migrantes, naqueles que tiveram que deixar a própria pátria, que são acolhidos por muitas pessoas boas ou pessoas indiferentes, que estão no caminho do exílio, longe da própria pátria, que sentem saudade dos amigos, da família, da beleza da pátria: a todos eles, dou a minha bênção em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Em Passo Fundo (RS), projeto apoiado pelo FNS constrói espaço de cultura do encontro para as mulheres das periferias



 Mulheres da periferia de Passo Fundo (RS) têm encontrado forças para enfrentar os desafios da vida construindo um espaço de cultura do encontro em vista do fortalecimento de sua autonomia, do seu protagonismo e da comunhão. Essa iniciativa, realizada por meio da Associação Beneficente São Carlos, na arquidiocese de Passo Fundo (RS), é um dos projetos apoiados pelo Fundo Nacional de Solidariedade da Campanha da Fraternidade 2024, que tratou do tema da amizade social.

O projeto envolve mulheres que residem na periferia de Passo Fundo, nas chamadas ocupações urbanas, mães-solo e mulheres de baixa renda. Dos 200 mil habitantes da cidade, cerca de 14 mil pessoas moram nas periferias, sendo um grande grupo o de mulheres. É neste contexto que é desenvolvido o trabalho do grupo “Ocupar Mulheres – terra e luta”, dentro da Associação São Carlos, ligada aos Missionários Scalabrinianos.

O apoio do Fundo Nacional de Solidariedade, dentro do Eixo 1, tem ajudado na realização de encontros mensais, desde janeiro, possibilitando um ambiente formativo, acolhedor e de partilha.

“Através do apoio do Fundo Nacional de Solidariedade, já foram realizados três encontros com mulheres das periferias de Passo Fundo. Sendo o primeiro sobre ‘Mulheres e o cuidado’; o segundo sobre ‘Mulheres e arte’ e o terceiro sobre ‘Mulheres e a espiritualidade’, reunindo em torno de 40 mulheres e 15 crianças em cada atividade”, explicou a assistente social responsável pelo projeto Silvana Ribeiro.

Ao final desses encontros, as mulheres farão o lançamento de um livro com suas reflexões sobre a vida na cidade, com destaque para suas experiências na periferia. A proposta é que seja realizado um evento aberto na cidade de Passo Fundo.

Partilhas

Silvana também destaca que já é possível ouvir algumas partilhas das mulheres sobre os encontros realizados, principalmente pela abertura de um espaço onde podem socializar mulheres e crianças, onde se fortalece a autonomia e onde é possível conviver e se confraternizar sem gastar, como nos shoppings.

“Através destas narrativas percebemos que o projeto é um espaço de encontro, de fortalecimento da amizade social e de produção da autonomia das mulheres. Os próximos encontros serão realizados através do tema mulheres e espiritualidade, campanha da Fraternidade e cultura. Agradecemos muito o apoio da CNBB através do FNS, que possibilita que nas periferias de Passo Fundo seja possível construir a cultura do encontro e da amizade social”, destacou a assistente social.

Coleta Nacional da Solidariedade

No próximo final de semana, quando a Igreja celebra o Domingo de Ramos, será realizada a Coleta Nacional da Solidariedade, o gesto concreto da Campanha da Fraternidade. Com esses recursos, é possível apoiar diversos projetos em todo o país levando vida e esperança para as realidades mais desafiadoras.
Por Luiz Lopes Jr.

Francisco



 Dom Geraldo dos Reis Maia

Bispo de Araçuaí (MG)

 

Segundo o Evangelho de Mateus, Jesus ressuscitado manifestou-se primeiramente às mulheres e as enviou a anunciar aos apóstolos: “Não tenhais medo. Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão” (Mt 28,10). Voltar à Galileia significa voltar ao primeiro encontro. Foi lá que tudo começou. Os apóstolos e nós somos chamados a fazer um itinerário de seguimento e, nesse itinerário, aprendemos com o Mestre o caminho da Cruz e da Ressurreição. Voltar à Galileia é voltar ao primeiro amor, ao primeiro encantamento. 

O Papa Francisco nos fez recordar este primeiro encontro pessoal com o Senhor: “todo encontro autêntico com Jesus fica na memória viva, nunca é esquecido. Você se esquece de tantos encontros, mas o encontro com Jesus verdadeiro permanece sempre”. E continua Francisco: “(para) cada um de nós, na sua vida, (houve) um momento em que Deus se fez presente com mais força, com um chamado. Recordemo-lo. Voltemos àquele momento, para que a memória daquele momento nos renove sempre no encontro com Jesus” (Angelus, 17/01/2021). 

Para o jovem Bergoglio, houve um encontro pessoal, inesquecível, que o fez recordar o encontro de Jesus com Mateus (Mt 9,9-13). Na festa de são Mateus do ano de 1953, o jovem Jorge Bergoglio experimentou, com 17 anos, de modo totalmente particular, a presença amorosa de Deus na sua vida. Depois de uma confissão, sentiu o seu coração ser tocado e fez a experiência pessoal da descida da misericórdia de Deus, que, com o olhar de amor terno, o chamava à vida religiosa, a exemplo de santo Inácio de Loyola. Desse encontro pessoal e inspirado numa homilia de São Beda, o Venerável, sacerdote (Hom. 21; CCL 1, 22, 149-151), o argentino escolheu o lema do seu ministério: “miserando atque eligendo” (com misericórdia o elegeu). 

O querido Papa Francisco deixou um grande legado espiritual, pastoral e eclesial; humano, social e ecológico. Qual será a marca que este pontificado deixará impressa em nossa memória e em nossa história? Podemos desfiar um rosário de temas que lhe foram caros: alegria, esperança, misericórdia, dentre outros. Francisco lutou muito contra a miséria, o descarte de seres humanos, a desumanidade das guerras, os muros de separação, o desprezo para com a natureza. Como Jesus Cristo e São Francisco, este querido Papa combateu em favor dos pobres, contra as injustiças, em favor da paz e da ecologia integral. 

Profundamente apaixonado pelo Evangelho de Jesus Cristo, o Papa desejou ver uma Igreja renovada, comprometida com os valores do Reino, uma Igreja sinodal, em saída missionária para as periferias geográficas e existenciais. Desde o início de seu Pontificado, Francisco desejou “uma Igreja pobre para os pobres”, consciente de que os pobres “têm muito para nos ensinar” (EG,198). E assim, Francisco exerceu o seu ministério, amando os pobres, defendendo os pobres e vivendo como pobre. Como reformador, ele começou reformando o jeito de ser papa. Ele foi um divisor de águas na forma de exercer o ministério petrino. 

Como poucos, Francisco sonhou com uma nova humanidade. Recordemos aqui seu discurso na Catedral de Florença: “Só podemos falar de humanismo a partir da centralidade de Jesus, descobrindo n’Ele os traços do autêntico rosto do homem. É a contemplação da face de Jesus morto e ressuscitado que recompõe a nossa humanidade, inclusive daquela fragmentada pelas dificuldades da vida, ou marcada pelo pecado. Não devemos domesticar o poder da face de Cristo. A face é a imagem da sua transcendência. É o misericordiae vultus. Deixemo-nos olhar por Ele. Jesus é o nosso humanismo” (Discurso, 10/11/2015). 

Por Francisco, os sinos das igrejas do mundo inteiro repicam de forma especial, reconhecendo o seu grande legado nesses mais de 12 anos de fecundo ministério e 88 anos de vida inteiramente dedicada a Deus, na Companhia de Jesus, no episcopado e como Sucessor do Apóstolo Pedro. Como primeiro papa latino-americano, levou ao mundo o nosso jeito de ser Igreja de Jesus Cristo, Igreja comprometida com as causas humanas, sociais, culturais e econômicas, uma Igreja que caminha na história, acolhendo as sementes do Reino, lançadas pelo Filho de Deus que se inseriu em nossa história para elevar a humanidade à glória de Deus, como nos ensinou S. Irineu de Lião (Adv. Haer. IV,20,7), que lhe foi grande inspirador. 

Feita a sua Páscoa, o Papa Francisco canta com o Salmista, nas periferias do Paraíso: “Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós, felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado!” (Sl 15,11). 

Homenagem ao Papa Francisco

 






Dom Carmo João Rhoden 
Bispo Emérito de Taubaté (SP) 

 

Texto referencial: Tu me amas mais do que estes? Tu, sabes que te amo.  

(Jo 21,15-16.18). 

 

1-Adeus, Papa Francisco, e eterno agradecimento, por tudo o que fizeste, pelo rebanho do sumo e eterno Pastor, Jesus Cristo, o qual a teus cuidados pastorais o confiou.  

2-Pedro, de quem fostes um dos sucessores, bem como de todos os apóstolos, certamente te receberam felizes, pois procuraste cuidar, carinhosamente do rebanho e que a outro agora passará.  

3-Olhaste para o alto, para receberes as luzes necessárias para a condução do rebanho do Senhor. Olhaste para frente, pois, por ali passa a esperança do futuro. Olhaste, para dentro de ti mesmo e percebeste a necessidade da conversão e a urgiste de todos e começando contigo. 

4-Como Jesus, fostes ao encontro dos mais fragilizados, defendestes seus direitos, clamando por justiça, sem esquecer também a necessidade da solidariedade humana. 

5-Como Francisco de Assis, defendeste a natureza obra de Deus e presente à humanidade, pois sem ela, esta não pode viver, pois não haveria verdadeiro futuro.  

6-Como Pedro e junto dele, te suplicamos que continues a zelar pelo rebanho que já foi teu e agora passará para outro. Sabendo que o Pai celeste tem mais a dar, do que nós podemos almejar, desejamos-te a visão beatifica da Trindade e assim a felicidade sem fim. Até nosso encontro, na casa do Pai. 

Tempo de discernimento e obediência

 



Dom Alberto Taveira Corrêa 
Arcebispo de Belém do Pará (PA)

 

Após a Ressurreição e Ascensão de Jesus e a descida do Espírito Santo, no Pentecostes, começou a maravilhosa aventura da Igreja, chamada por Deus e atuar como sal, luz e fermento na sociedade. Os Atos dos Apóstolos retratam a vida das primeiras Comunidades, com os percalços havidos no confronto com os costumes, legislação e prática religiosa existentes na Palestina daquele tempo. Depois, especialmente através do ministério de Paulo, ampliaram-se os horizontes e os problemas afloraram. Tratava-se do ambiente helênico e romano, com hábitos e cultura diferentes. Trata-se de adequar-se a cada ambiente, sem perder a originalidade da graça do cristianismo, tarefa que acompanha a Igreja no correr dos séculos.  

Já na Sagrada Escritura e na História da Igreja, o Espírito Santo abriu sempre as portas para o reconhecimento sincero das faltas existentes nas pessoas, sabedores que somos da santidade da Igreja, malgrado os nossos pecados pessoais, comunitários e sociais. De fato, ela é santa, pois “Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra aquela que ele purifica pelo banho da água. Pois ele quis apresentá-la a si mesmo toda bela, sem mancha nem ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito” (Ef 5,26-27). Os pecados são nossos, e o Senhor quer deles purificar-nos. A Igreja é santa, mas feita de pecadores, que somos nós! Se assim não fosse e a Igreja tivesse sido criada como uma associação de pessoas, até interessadas no Evangelho, não teria subsistido! Ela se mantém porque o Senhor está no meio de nós! Mistério da Misericórdia de Deus! 

O confronto da Igreja nascente com os poderes religiosos e políticos então reinantes nos trouxe uma magnífica experiência, cujos reflexos podem multiplicar-se também hoje, com edificantes consequências. “Os guardas levaram os apóstolos e os apresentaram ao Sinédrio. O sumo sacerdote começou a interrogá-los: ‘Não vos proibimos expressamente de ensinar nesse nome? Apesar disso, enchestes a cidade de Jerusalém com a vossa doutrina. E ainda quereis nos responsabilizar pela morte desse homem!’ Então Pedro e os outros apóstolos responderam: ‘É preciso obedecer a Deus antes que aos homens. O Deus de nossos pais suscitou Jesus, a quem vós matastes, pregando-o numa cruz. Deus, porém, por seu poder, o exaltou, tornando-o Chefe e Salvador, para propiciar a Israel a conversão e o perdão dos seus pecados. E disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem’. Quando ouviram isto, ficaram furiosos e queriam matá-los” (At 5,27-33).   

Nós fomos criados por Deus e a ele devemos dar contas de nossa caminhada nesta terra e das decisões que tomamos. Antes de sermos membros de qualquer sociedade organizada nesta terra, temos uma dignidade fundante de nossa existência, e esta vem de Deus e seu plano infinito de amor, com o qual quer que vivamos nesta terra e numa eternidade feliz. Passa na frente do Estado ou dos Governos a liberdade religiosa e o dever de respeitar as pessoas, em suas decisões de consciência. Por isso, sistemas sociais e políticos vieram à tona e depois se esvaíram, mas a Igreja, com todos os limites dos homens e mulheres que a compõem, permanece firme estável, solidamente alicerçada na Rocha que é Cristo. Um dos sinais mais impressionantes da solidez da Igreja é o ministério de Pedro e seus sucessores, chamados a proclamar que se deve obedecer antes a Deus do que aos homens. E é um verdadeiro milagre que percorre a história o fato de o Espírito Santo ter sempre alguém misteriosamente preparado para ser Papa.  

Independentemente da idade, nacionalidade, formação ou cultura, impressiona fortemente a nós e ao mundo a fidelidade dos que são responsáveis pela eleição de um Papa, como estamos vivendo agora, ao acolherem e a ele fazerem plena unidade e prestarem obediência, sabendo que sua palavra e ministério confirmam os irmãos, segundo a promessa do Senhor: “Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22,32). 

Para obedecer antes a Deus do que aos homens, faz parte da vida da Igreja o discernimento, com o qual se buscam fontes seguras: a Palavra da Escritura, as inspirações de Deus acolhidas com serenidade na oração e o conselho dos irmãos e irmãs. Daí o respeito que nos cabe ter diante de realidades tão sérias, com que a Igreja busca o discernimento dos passos a serem dados no anúncio do Evangelho.  

E a Igreja vive a sua missão num mundo pluralista e desafiador, quanto às convicções religiosas, políticas e culturais, devendo responder com espírito de humildade, aliado à grande paixão pela verdade, que é Jesus Cristo. Sabemos que os próximos dias serão também de grandes provocações a um testemunho fiel do Evangelho sobre toda a Igreja, vindas das mais diversificadas correntes de pensamento e opinião, pelo que confiamos na fervorosa oração de todo o Povo de Deus, para que sejamos mais fiéis a Deus do que aos homens (cf. At 2,27-33). Rezemos muito pela realização do Conclave, sabendo que Deus tem preparado aquele que só ele sabe e, estamos convictos, será o Papa para este tempo, pois Deus não abandona a sua Igreja. A certeza vem do Evangelho: “Eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18-19). 

No entanto, não só no governo da Igreja faz-se necessário obedecer antes a Deus do que aos homens. O discernimento há de acompanhar os jovens em suas opções de vida, o matrimônio nas decisões sobre os filhos e a educação dos mesmos, os homens e mulheres que têm responsabilidades na vida pública nas escolhas e na execução das políticas públicas! 

O Espírito Santo nos conceda o mesmo ardor e a coragem das primeiras comunidades cristãs, para sermos sinais de Deus para o nosso tempo e o nosso mundo. Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, interceda por nós! 

Postagens mais antigas → Página inicial